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Rússia torna-se o primeiro país a reconhecer oficialmente o governo do Talibã no Afeganistão

Em 3 de julho de 2025, a Rússia anunciou o reconhecimento formal do Emirado Islâmico do Afeganistão — governo instaurado pelo Talibã em agosto de 2021 — tornando-se o primeiro país a dar esse passo

Contexto e motivações

Após a tomada do poder em 2021, o Talibã reinstaurou um regime rigoroso da lei islâmica, impondo restrições severas às mulheres, sobretudo no acesso à educação e vida pública . Desde então, o grupo buscava romper o isolamento diplomático e internacional.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia declarou que o reconhecimento buscará “impulsionar o desenvolvimento da cooperação bilateral produtiva” em setores como energia, transporte, agricultura e infraestrutura . Além disso, Moscou pretende auxiliar Cabul no combate ao terrorismo e narcotráfico, além de fortalecer a segurança regional.

O chanceler afegão Amir Khan Muttaqi saudou a decisão como “histórica” e “um exemplo corajoso para outros países”

Relações prévias e estratégia de aproximação

Antes do reconhecimento oficial, a Rússia já havia retirado o Talibã de sua lista de organizações terroristas em abril de 2025 e inaugurado, em 2024, um escritório de representação comercial em Cabul Em 2022, o presidente Vladimir Putin classificou os talibãs como “aliados na luta contra o terrorismo”

A cooperação já envolve importação de gás, petróleo e trigo do Afeganistão para a Rússia, além da perspectiva de usar o país como rota de transporte de gás para o Sudeste Asiático

Repercussão internacional e críticas

Embora China, Paquistão, Emirados Árabes Unidos e Uzbequistão tenham enviado embaixadores a Cabul, nenhum havia reconhecido oficialmente o governo talibã . Assim, a decisão russa representa uma mudança significativa no cenário geopolítico.

Ativistas pelos direitos das mulheres afegãs denunciaram que esse reconhecimento “legitima um regime que exclui mulheres da educação, aplica flagelações e protege terroristas sancionados pelas Nações Unidas” . Como apontou Mariam Solaimankhil, ex-deputada afegã, “os interesses estratégicos sempre vão pesar mais que os direitos humanos e o direito internacional”

Por que isso importa?

  • Mudança de paradigma diplomático: a Rússia abre caminho para a normalização internacional do Talibã.
  • Interesses geoeconômicos: o Afeganistão pode tornar-se uma nova rota e parceiro estratégico para a Rússia.
  • Precedente para outros países: o chanceler afegão espera que a medida inspire outras nações a seguir o exemplo.