Entreterimento

O que tem no celular de Silas Malafaia

Apreendido pela Polícia Federal, o telefone do pastor pode revelar diálogos e articulações políticas com Bolsonaro e aliados.

A apreensão do celular do pastor Silas Malafaia pela Polícia Federal, no Aeroporto do Galeão, não é apenas mais um capítulo do embate entre o bolsonarismo e o Supremo Tribunal Federal. Trata-se de um movimento que pode reconfigurar a própria compreensão do papel político do líder religioso no núcleo duro de Jair Bolsonaro.

A pergunta que ecoa nos bastidores de Brasília é simples, mas carregada de consequências: o que há no telefone de Malafaia?

Se os investigadores encontrarem mensagens ou áudios que reforcem a tese de que Malafaia atuava como conselheiro político, sua condição de pastor passa a ser vista também sob a ótica de articulador estratégico. Isso teria peso especial nas acusações de obstrução de Justiça, nas quais Bolsonaro e seu filho Eduardo já são apontados como protagonistas.

Conversas privadas com figuras do alto escalão do bolsonarismo, registros de reuniões, orientações estratégicas e até mesmo indícios de articulação para mobilizações de rua podem ser peças determinantes no quebra-cabeça da investigação. Cada troca de mensagem pode funcionar como uma linha de conexão entre fé, política e poder.

Há ainda outra implicação: o celular de Malafaia pode revelar a extensão de sua rede de contatos e a influência exercida dentro e fora das igrejas evangélicas. Nomes de políticos, empresários e líderes religiosos podem aparecer em grupos ou conversas diretas, dando dimensão concreta ao peso de sua atuação.

Esse risco não é apenas jurídico. É também político. A imagem de Malafaia como “voz profética” pode ceder espaço à figura de articulador que usava o púlpito e a retórica religiosa como instrumentos de pressão política. Para uma base de fiéis que confia no pastor como autoridade espiritual, tal revelação seria devastadora.

Se confirmadas as suspeitas de que Malafaia agia como elo entre Bolsonaro e setores do eleitorado evangélico para sustentar narrativas contra o Supremo, o impacto será duplo: fortalece a tese da Procuradoria-Geral da República e, ao mesmo tempo, obriga o STF a lidar com a delicada fronteira entre liberdade religiosa e abuso de influência política.

Não é à toa que analistas veem nesse episódio um divisor de águas. O celular do pastor pode ser apenas mais um aparelho apreendido em uma investigação — ou pode se transformar em um arquivo vivo das articulações que sustentaram o ex-presidente no período mais crítico de sua vida política.

O que está guardado na memória digital de Silas Malafaia tem potencial de ir muito além do âmbito pessoal. Pode ser a chave para compreender como religião, política e poder se entrelaçam no Brasil contemporâneo.

Fonte: Fuxico Gospel